A atriz, que na adolescência se dividia entre o esporte, sendo inclusive jogadora federada no voleibol, e a música, cantando em eventos do colégio, integrando bandas, e se apresentando em restaurantes de garçons cantores, chega aos palcos em 2001, com “Les Misérables”, após descobrir um anúncio de jornal em busca do elenco; o que ela não imaginava é que a produção que marca sua estreia na “Broadway brasileira”, a consagraria melhor Atriz Coadjuvante nos principais prêmios do gênero 16 anos depois, em uma segunda versão.
Estreante como ensemble no musical baseado na obra de Victor Hugo, emendou superproduções como “A Bela e a Fera” no papel de Dona Cômoda - nas duas montagens brasileiras -, o original “Cole Porter - Ele Nunca Disse que me Amava”, “Cats”, “Mamma Mia”, em um de seus papéis preferidos, a Dynamo Rosie, “Priscilla, a Rainha do Deserto” como Shirley, “A Madrinha Embriagada” como Dora Aviadora, “Mudança de Hábito” como Irmã Patrícia, “We Will Rock You” como Killer Queen, “Wicked” como cover de Madame Morrible, “Les Misérables” como a premiada Madame Thénardier, “A Pequena Sereia”, da Disney, onde foi convidada para viver Úrsula, “Sunset Boulevard” como alternante de Norma Desmond e, em seu último trabalho, pré pandemia, “Chaves - Um Tributo Musical”, como a famosa Dona Clotilde, também à convite dos produtores responsáveis, os mesmos que emendaram a proposta irrecusável de tê-la como Donna Lovett em “Sweeney Todd”.
Já fora dos palcos, entre um trabalho e outro, Andrezza ainda foi responsável pela preparação vocal de espetáculos como “Sweet Charity”, com Cláudia Raia, e produções como “Peter Pan - Todos Podemos Voar” (2007), da CIE Brasil (atual T4F), e “Aida” (2008), da Master Produções Artísticas e Culturais e Break a Leg! Produções e Eventos.
Essa semana ela estreou no musical "Uma Linda Mulher" em São Paulo como a personagem Kit De Luca que já é um grande sucesso.
Capa do Correio B+ desta semana, ela fala com exclusividade sobre início de carreira, personagens e suas construções e claro, Uma Linda Mulher.
O que veio primeiro na sua vida, a música, a dança ou a interpretação?
AM - O que veio primeiro na minha vida foi a música. Eu cantava quando adolescente em rodinhas de violão que evoluíram para bandas do colégio. Eu era bolsista do colégio 50% porque jogava Voleibol, era federada, e 50% porque eu cantava nas feiras de CIências e outros eventos.
Cantava de abrir a boca, nunca estudei. Minha vida profissional começou porque uma pessoa dessa banda, um pianista, me chamou para fazer piano e voz em bares e hotéis, comecei a fazer este tipo de trabalho, mas foi por pouco tempo porque logo entrei em um restaurante onde os garçons eram cantores, o Sammer Brothers, do mesmo dono do extinto Brooklyn. Era meio que fachada de garçom, mas a gente atendia também, só não pegava o serviço pesado. Neste caso o repertório que a gente cantava era de jazz, folk e blues.
Precisou mudar muitas coisas na sua vida e rotina quando escolheu viver de Arte?
AM - Eu precisei mudar muita coisa na minha vida quando comecei a viver de música, porque na época eu estava fazendo a faculdade de fisioterapia, até então, tinha sido tudo muito amador, na brincadeira, mas aí a coisa meio que ficou séria, com a fase do restaurante, de cantar a noite.
Eu precisei trancar a faculdade, fiz três anos e tranquei o quarto - que era o último de estágios - e depois de dois anos que eu voltei para terminar, então eu meio que fiz essa fase do restaurante e o começo dos ‘Les Misérables’ no ano de estágio, entrega de TCC, etc, então minha rotina era uma maluquice, eu entrava super cedo no primeiro estágio às 08h, saia 12h, entrava no segundo estágio as 14h, saia às 18h, e ia direto para o restaurante que começava às 20h30 e acaba às 02h.
Fiquei quase um ano assim e no final do ano surgiu o musical e sai de tudo. Acabou a faculdade, peguei o canudo da colação e fui direto pro ensaio do Les Mis. Foi a minha sorte se não não teria conseguido, teria que sair de um ou não entrar no outro, no caso.
Você é conhecida especialmente por sua veia cômica, mas não se limita a isso, prova disso são seus últimos trabalhos. Como é pra você transitar por tantos tipos de personalidade?
AM - É muito gratificante, mas é muito assustador também, essa coisa de mudar completamente. O desafio é o que move a maioria de nós, artistas, mas ao mesmo tempo ele assusta, porque você não sabe se vai conseguir. Sair dessa coisa da ‘gordinha engraçada’, da Úrsula, e cair de cabeça numa Norma Desmond, que é absolutamente todo o oposto do que acostumei fazer, desde o corpo, até a voz, a intenção dramática, a idade, tudo.
Dos seus 45 anos de vida, mais de 20 vêm sendo dedicados ao teatro musical. Formada em Fisioterapia, Andrezza não chegou a exercer a profissão, pois foi levada pela onda de famosas produções da Broadway que ganhavam suas primeiras montagens brasileiras e se instalavam de vez em São Paulo na virada do milênio, período esse que se tornaria um divisor de águas para aqueles que, como ela, figuram hoje entre os principais nomes da história do gênero.
Tudo era muito diferente do que estava acostumada, até mesmo a posição de alternância de uma grande atriz. É apaixonante. Por isso também aceito bastante papéis hoje em dia, pois penso o que vão me trazer de mudança na vida, de desafio.
É é legal também porque, em muitas ocasiões, essa mudança me faz descobrir coisas em mim que eu não sabia que tinha, então não deixa de ser uma forma de autoconhecimento, pois se você ficar só em um perfil, em um padrão, vai perder chances de testar, de descobrir novas facetas através da arte - que eu acredito.
Como é o seu processo de construção a cada novo trabalho?
AM - Já começo a procurar coisas sobre o universo do personagem, e nem falo só de texto. Tento escutar músicas da época, se for o caso de um personagem de época, no caso, quando o corpo é muito diferente tento focar minha alimentação, tipo de exercício para o próximo, condicionamento físico, se for um musical com algum tipo específico de voz, mais operístico ou mais beltada, eu tento fazer aulas, vejo muitos filmes, do assunto, até eu realmente pegar tudo do texto.
Eu gosto de ver bastante referências, não para copiar, mas até para ver o que eu não quero fazer, mas as melhores referências são sempre os livros, a época, e eu vou fundo nisso, é um processo legal de construção e desconstrução.
Com mais de 20 grandes musicais no currículo, dá tempo de desapegar das personagens?
Como é esse processo?
AM - É sempre um luto quando eu acabo um personagem. Eu fico com a voz do personagem, o corpo do personagem durante um tempo, eu penso como o personagem, pareço maluca, mas a gente vive isso seis, sete vezes por semana, fora os ensaios, a preparação para tudo isso, então cada personagem é de uma forma muito especial. Dependendo do personagem, se eu tenho mais empatia, é mais difícil ainda…
O primeiro desapego mais difícil, em termos de musical, foi em “Les Misérables”, tive até febre. Mesmo sabendo que eu já estava no elenco de “A Bela e a Fera”, a gente sente como se despedisse de uma família, não só de um personagem. Você vê aquelas pessoas todo dia, você convive mais com o elenco e a produção do que com a sua família, certamente. Então dependendo do grupo e do que você vive no processo, é muito difícil dar tchau.
Com o tempo você aprende e não se apega tanto. Eu até tento não me apegar muito a tantos, mas é impossível. Hoje eu já começo um trabalho sabendo que ele vai acabar e consigo lidar melhor com isso, o tempo de luto é menor. Fica a lembrança, mas o luto fica um ou dois dias, o tempo de remoer é menor, vou me despedindo antes, começo a postar fotos e elas viram memórias…
Como tem sido a experiência de ensaiar esse novo musical (Uma Linda Mulher)? O que acha que ele tem de especial?
AM - Todo novo musical, ele chega com uma série de desafios pra gente, desde a parte vocal, a parte de interpretação, parte física. Então, tá sendo uma descoberta de uma época que eu vivi na infância, mas que agora tá muito mais presente e a lembrança dessa época tá mais tona.
Então, tá sendo bem exaustivo, vamos dizer assim, porque a gente tem uma intensidade de ensaios muito grande, tanto vocalmente como fisicamente, é uma exaustão, mas é pro bem, faz parte do processo.
Eu acho que justamente essa questão da nostalgia, de fazer você lembrar da sua infância, da sua adolescência, dos bailinhos, da fase mais gostosa da tua adolescência, do conto de fadas, do primeiro namorado. Eu, particularmente, me lembro muito de ver esse filme na sessão da tarde e ficar sonhando com o príncipe, vamos dizer assim. Então, acho que essa é a parte mais legal desse musical.
A trilha dele é bem apoiada no Rock, que é um gênero que você se identifica desde o inicio da carreira. Como tem sido esse "reencontro"?
AM - O rock sempre foi muito presente na minha vida. Eu comecei a minha carreira cantando rock in roll. E voltar pra isso, na verdade, acho que eu nunca saí, mas poder exercitar isso no palco, num espetáculo de teatro, é mais especial ainda. Eu nunca larguei, nunca larguei dessa questão do rock.
Onde a Kit de Luca mais te desafia?
AM - Eu acho que justamente na questão de juntar a exigência vocal com a exigência física. Ela se movimenta bastante, é um personagem que se movimenta bastante, muito intenso, pula para lá, pula para cá e tem esse vigor bem característico do personagem que a gente criou. Então juntar isso com a voz, que é uma partitura bem dificinha, vamos dizer assim, bem complicada, eu acho que é o maior desafio.