Por mais um ano, cerca de 8 mil crianças devem ficar fora das Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis) em Campo Grande. Isso porque a prefeitura ainda não conseguiu cumprir a promessa de abrir 5 mil vagas, tampouco chegou perto de atender as crianças que já estavam na fila de espera.
Segundo dados do ano passado da Secretaria Municipal de Educação (Semed), cerca de 9 mil crianças aguardavam uma vaga em Emeis da Capital. Para este ano, a Pasta informou que estão abertas 6.369 vagas e que ao longo do ano esse número pode aumentar, porém, não indicou um prazo.
“Já foi iniciada a construção de 166 novas salas nas escolas da Reme [Rede Municipal de Ensino], gerando mais 6.600 novas vagas para a Educação Infantil”, afirmou a Semed, por meio de nota ao Correio do Estado.
A demora na abertura de novas vagas, porém, não era o que havia sido informado pelo secretário municipal de Educação, Lucas Bittencourt, em novembro do ano passado.
“Nós vamos conseguir sanar parte do problema e continuaremos avançando. Essa parceria com o Estado vem para nos ajudar também. Então, com certeza, a gente vai conseguir diminuir esse grande deficit”, explicou o secretário na época.
A parceria citada por ele refere-se ao fato de que neste ano a Rede Estadual de Educação (REE) abriu mais de 25 mil vagas para Ensino Fundamental em Mato Grosso do Sul, e desse total 8 mil são para Campo Grande.
Segundo informação do secretário de Estado de Educação, Hélio Daher, na época do anúncio feito pelo governo, o objetivo da Secretaria de Estado de Educação (SED) com essa medida era aliviar os municípios quanto aos alunos da Educação Básica, para que as prefeituras conseguissem investir mais na Educação Infantil.
Ainda de acordo com a Semed, há previsão de inauguração de duas Emeis. “A entrega das obras nas Emeis do Jardim Inápolis e São Conrado este ano vai também absorver a matrícula de novas crianças”, disse em nota a Semed.
Entretanto, a data da abertura dessas novas Emeis também não foi informada pela Semed.
Outro desencontro no que havia sido projetado e na realidade atual é que, em novembro de 2023, Bittencourt afirmou que, para alocar os novos alunos, oito Emeis seriam entregues em 2024, não apenas duas. Com isso, o número de estudantes da Reme passaria de 111 mil para 116 mil e o número de escolas de 205 para 213 (incluindo alunos do Ensino Fundamental).
Sem a abertura de novas vagas, quem sofre são as famílias, principalmente as mães, que muitas vezes não conseguem emprego por não ter onde deixar o filho pequeno.
Raclezia Andrade Gonçalves, 40 anos, tenta uma vaga para o filho Juliano, 3 anos, desde o ano passado, mas até agora não conseguiu.
“Fui na Semed três vezes e disseram que ele iria para a lista de espera, falaram que ele estava em 122 em uma creche e 96 na frente. Fui no meio do ano novamente e disseram que eu tinha que aguardar. No fim do ano, fui novamente e disseram que a ficha que eu tinha feito não valia mais e eu teria que fazer outra. Fiz de novo e ainda não saiu”, lamenta a mãe.
“Não tenho com quem deixar meus filhos. O meu recurso seria a creche para poder trabalhar. Já arrumei serviço, mas não tive com quem deixar e perdi a vaga. Sempre explico isso lá na Semed, mas eles dizem que não podem fazer nada, que o jeito é aguardar. Eu trabalho em casa de família, faço faxina e o que aparecer de limpeza, que é o que sei fazer. Estou me virando com meus filhos com o Bolsa Família. Expliquei lá que preciso trabalhar, porque se eu trabalhar vou ter uma renda para os meus filhos. Só estou vivendo do Bolsa Família para manter as crianças”, disse Raclezia ao Correio do Estado.
A mesma situação enfrenta Grazieli Gonçalves Colman, 19 anos, mãe do pequeno Heitor Vicente, de 1 ano e 4 meses.
“Tentei desde o ano passado e ele está na lista de espera. Esse ano tentei novamente, está na lista de espera. Não posso trabalhar porque não tem quem cuide dele, só eu”, lamentou.
A jovem Lauane Bibiano, 16 anos, também busca vaga para o pequeno Lorenzo Miguel, de 2 anos, há mais de um ano e até agora não conseguiu.
“Estou tentando vaga na creche Elza Francisca de Souza Maciel há um ano e meio. Porém, não consigo. Esse ano saiu a lista dos alunos chamados da creche, e nem na primeira nem na segunda saiu o nome dele. Eu precisava muito que ele conseguisse a vaga porque eu trabalho em um trailer e não tenho com quem deixar o meu filho”, declarou a jovem.
A Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso do Sul recebeu, até esta terça-feira, 410 solicitações de vagas nas Emeis, segundo a coordenadora do Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Nudeca), defensora pública Débora Maria de Souza Paulino.
Só ontem, a reportagem conseguiu encontrar dois novos processos na Justiça de Campo Grande com o objetivo de conseguir vaga para duas crianças, uma de três e outra de 10 meses.