O número de pedidos de seguro-desemprego em Mato Grosso do Sul registrou, em 2025, o menor patamar dos últimos cinco anos. De janeiro a junho, foram registradas 50.226 solicitações no Estado, volume inferior ao do mesmo período de 2024 (59.640), ano em que o número alcançou o maior nível dos últimos anos.
A queda atual representa um recuo de 15,8% na comparação anual e consolida uma tendência de desaceleração nesse indicador, ainda que dentro de patamares historicamente elevados.
Desde o início da pandemia, os dados do benefício têm oscilado. Em 2021, ano mais letal da pandemia, Mato Grosso do Sul registrou 43.967 requisições. Desde então o número aumentou anualmente atingindo um pico no ano passado, registrando o menor número no primeiro semestre deste ano.
Para o economista Eduardo Matos, o comportamento atual revela que o mercado atingiu um ponto de equilíbrio no número de pedidos. “Na verdade, o número de pedidos de seguro-desemprego alcançou o platô, ou seja, alcançou o ponto máximo que a economia permite e, portanto, agora nós nos encontramos em um movimento de desaceleração desse indicador, haverá uma diminuição natural disso”, explicou.
Entre os fatores que justificam esse movimento, o especialista aponta a combinação de pleno emprego, aquecimento da economia e mudança nas formas de contratação, com destaque para o avanço da pejotização e da informalidade.
“Nós estamos já há algum tempo em estabilidade, em pleno emprego na economia sul-mato-grossense, isso porque nós temos um exército de mão de obra baixo e uma atividade econômica bastante aquecida”, afirmou Matos.
O pleno emprego, segundo o economista, não significa ausência de demissões, mas sim que boa parte da força de trabalho está ocupada, seja de maneira formal ou informal.
MEI
Além da formalização por meio da carteira assinada, o economista chama atenção para o crescimento do trabalho por conta própria ou sob a lógica do empreendedorismo compulsório — situação em que, sem conseguir emprego tradicional, o trabalhador abre um CNPJ para prestar serviços.
A abertura de Microempreendedores Individuais (MEIs), por exemplo, já se equipara ao número de empregos com carteira assinada criados no Estado, conforme reportagem do Correio do Estado publicada em maio deste ano.
Foram 17.482 novos microempreendedores individuais (MEIs) de janeiro a abril deste ano. No mesmo período, o saldo de empregos formais no Estado foi de 18.508, apenas 5,8% a mais que o número de CNPJs abertos.
Esses dados revelam uma reconfiguração do mercado de trabalho, na qual o modelo de vínculo tradicional perde espaço para novas formas de ocupação — com ou sem direitos trabalhistas.
Esse cenário tem reflexos diretos sobre o volume de pedidos de seguro-desemprego. Isso porque o benefício só é acessível a trabalhadores que foram demitidos sem justa causa e estavam inseridos no regime celetista. Portanto, profissionais autônomos, informais ou pejotizados não têm direito à proteção.
“O número de pedidos de seguro-desemprego também diminui porque a informalidade é muito alta. E algo que pouco se discute é que a informalidade depende da atividade econômica. Com um número bastante elevado de trabalhadores em situação autônoma ou informal [...] é natural que o ritmo de crescimento de informais caia. E combinado a esses fatores que nós já até conversamos, é comum que o número de pedidos de seguro-desemprego também diminua”, analisou Matos.
SAZONALIDADE
Mato Grosso do Sul, diferentemente de grandes centros industriais do País, apresenta uma dinâmica de emprego muito conectada à sazonalidade do agronegócio.
A colheita de grãos, o plantio de cana e a produção animal, por exemplo, operam com picos de contratação e posterior desligamento. Esse comportamento ajuda a explicar por que o Estado aparece com frequência entre os primeiros colocados na geração de empregos em determinados meses, e depois sofre oscilações negativas.
A migração de profissionais da zona urbana para ocupações no campo, sem vínculo formal, também contribui para um mercado de trabalho em transformação. Mesmo as grandes indústrias que operam na área da bioenergia ou frigoríficos vêm adotando, cada vez mais, o modelo de contratação via empresas terceirizadas ou prestadores de serviço com CNPJ.
Para Matos, o desafio agora é pensar políticas públicas que levem em conta esse novo perfil do trabalhador.
“A pejotização e a informalidade retiram do trabalhador a proteção do Estado. Não se trata apenas de uma escolha por liberdade, mas muitas vezes de uma imposição do mercado. É preciso compreender essas novas formas de ocupação para garantir uma rede de segurança mais ampla”, defende.
Enquanto isso, o número de pedidos de seguro-desemprego segue como termômetro das mudanças em curso. A queda registrada em 2025 aponta, por um lado, para maior ocupação da população economicamente ativa, mas, por outro, lança luz sobre a fragilidade de parte significativa da força de trabalho que, mesmo empregada, está fora do alcance das proteções clássicas da legislação trabalhista.
2021 - 43.967 requisições
2022 - 50.563 requisições
2023 - 50.961 requisições
2024 - 59.640 requisições
2025 - 50.226 requisições